A palavra hebraica “Kabbalah” significa Tradição. Em termos gerais, a Cabala é a tradição esotérica judaica, transmitida oralmente aos iniciados nessa doutrina. Ela também pode ser traduzida como “Ato de Receber”.
Os estudos cabalísticos buscam uma “sabedoria cósmica”, algo que vai além dos sentidos comuns. Esse mundo de perguntas atrai o indivíduo espiritual, sempre ávido por respostas. Essas pessoas costumam ter uma capacidade latente de transcender, elevando-se através da ponte da sabedoria até o mundo metafísico, sem se prender a divisões religiosas.
Embora tenha ganhado força na Idade Média, por volta do século XIII, na França e na Espanha, especialmente através do livro Zoar (Livro do Esplendor), suas raízes podem ser traçadas até o Egito dos faraós, na era de Moisés. A palavra “Kabbalah” carrega o sentido de “espírito de Deus”, sugerindo que Deus só pode ser compreendido por meio de sua criação. Apesar de, inicialmente, os judeus rejeitarem a influência egípcia, devido à escravidão hebraica naquele país, a Cabala traz consigo influências vindas também da Babilônia, restaurando alguns dos elementos egípcios.
A literatura cabalística é vasta e foi influenciada por diversas correntes de pensamento, como o judaísmo, o gnosticismo, o neoplatonismo, além de influências gregas, árabes e persas. Os textos mais importantes incluem o Sepher Yetzirah e o Sepher ha Zohar, que juntos descrevem a Árvore Sefirótica, uma representação dos níveis de consciência que o ser humano deve alcançar em sua jornada de retorno ao Paraíso. A Cabala prática engloba elementos como espiritismo (não apenas no sentido da doutrina Espírita, mas também no sentido arcano), holismo e outras práticas, sem cair no ascetismo.
Na visão cabalística, vida, morte e reencarnação são parte de um ciclo contínuo. A veneração aos mortos e aos ancestrais é uma parte significativa da prática cabalística. O cabalista não vê Deus através da teologia formal, nem reconhece Jesus como “Filho de Deus” no sentido dogmático, mas sim como um Grande Mestre.
Em essência, a Cabala é uma mistura de ciência, arte e religião. Para aprender seus ensinamentos, é necessário um mestre cabalista, que guia o discípulo tanto na teoria quanto na prática. O conceito de reencarnação, por exemplo, é visto como um processo de correção da alma, que necessita de um corpo para exercitar o livre-arbítrio e alcançar a perfeição. A vida, portanto, é um presente cujo objetivo é o aperfeiçoamento, após o qual a alma está pronta para integrar-se à Luz.
No que diz respeito ao sono e aos sonhos, a Cabala ensina que o sono é uma necessidade da alma. Durante o sono, a alma se liberta temporariamente do corpo para recuperar suas energias. Dessa forma, o sono é como uma pequena morte, um desligamento momentâneo que permite a renovação espiritual. Os sonhos, por sua vez, podem ser mensagens codificadas da alma, com as quais devemos aprender a dialogar para obter orientação.
Os caminhos da Cabala se manifestam por meio das Sefirot, que representam diferentes aspectos da consciência. “Malkut” é o reino onde vivemos, e os cabalistas acreditam que o corpo é o verdadeiro templo de Deus. “Yesod” é o limite entre este mundo e o outro. “Netzach” representa a vitória, mas não sobre os outros; é a vitória eterna, onde o homem transcende o tempo e o espaço. “Hod” simboliza a glória que vem após a vitória, e “Tiferet” é a beleza por onde o místico inicia sua jornada.
Na esfera de “Hesed”, o místico sente a união entre o eu e o outro, enquanto “Chokmah” (sabedoria) representa a sabedoria superior, onde a verdade é descoberta e o místico é libertado. Em “Binah” (entendimento), o místico experimenta a luz da inteligência divina, e em “Keter” (coroa), ele atinge o ápice da sabedoria, onde tudo se une em um resplendor incompreensível.
As Sefirot são os aspectos pelos quais Deus se manifesta. Acima delas está o Ein Sof, o Infinito, aquilo que o homem jamais poderá compreender. A busca pela imortalidade, um sonho antigo da humanidade, está entre os estudos dos cabalistas, que acreditam que os segredos dessa imortalidade estão ligados à energia da água. Previsões feitas por Rabbi Abraham Azulai, um cabalista medieval, sugeriam que esses segredos seriam revelados no ano 5760 do calendário hebraico, correspondente ao ano 2000, e estariam diretamente conectados à meditação cabalística sobre a água.
Alguns estudiosos consideram que a ciência cabalística precede a própria criação do mundo, sendo transmitida de Deus para os anjos, e destes, para os homens. Dessa forma, os nomes e a regência dos anjos também fazem parte do vasto acervo da tradição cabalística.
Fontes
AZULAI, Abraham. Chesed L’Avraham (Oração de Abraão). Jerusalém: [Editora], [Ano].
BERG, Yehuda. O Poder da Cabala: Tecnologia Para a Alma. São Paulo: Pensamento, 2007.
MACGREGOR MATHERS, Samuel Liddell. The Kabbalah Unveiled. London: Kessinger Publishing, 1887.
PAPUS. A Cabala: Doutrina Secreta dos Hebreus. São Paulo: Pensamento, 1994.
SCHNEIDER, Michael Laitman. Cabala Revelada: O Caminho para uma Vida Plena. São Paulo: Editora Unicórnio, 2006.
Sefer ha-Zohar (O Livro do Esplendor). Tradução de Daniel C. Matt. Stanford: Stanford University Press, 2004.
Sefer Yetzirah (O Livro da Criação). Tradução de Aryeh Kaplan. York Beach: Weiser Books, 1997.
Esses exemplos seguem o modelo para livros impressos: Sobrenome do autor, nome do autor. Título do livro. Edição (se houver). Cidade: Editora, Ano.