O QUE É TOKENISMO E COMO ELE SE MANIFESTA
Você já ouviu falar em tokenismo?O termo se refere à inclusão simbólica e superficial de indivíduos pertencentes a grupos historicamente minorizados — como pessoas negras, mulheres, LGBTQIA+, indígenas e pessoas com deficiência — em espaços de poder, na mídia ou em instituições.Essa inclusão cria uma falsa sensação de mudança e diversidade, sem de fato promover transformações estruturais ou alterar os mecanismos que mantêm as desigualdades.
ORIGEM DO CONCEITO
A palavra vem do inglês token, que significa “símbolo” ou “representação”, surgindo nos Estados Unidos, no contexto do Movimento dos Direitos Civis, durante as décadas de 1950 e 1960. Porém, a expressão ganhou mesmo notoriedade nos discursos de Martin Luther King Jr., que criticava ações de inclusão meramente simbólicas, sem compromisso genuíno com a igualdade racial (KING Jr., 1963).
Em 1977, a socióloga Rosabeth Moss Kanter ampliou a compreensão do termo em seu livro Men and Women of the Corporation. Ela descreveu o tokenismo como a situação em que uma ou poucas pessoas de um grupo minoritário são incluídas em um ambiente majoritariamente homogêneo, apenas para representar uma suposta diversidade, sem qualquer redistribuição real de poder.
Segundo Kanter (1977), “o token é visível e destacado, mas isolado; ele simboliza a diferença, sem que essa diferença traga transformações significativas”.
TOKENISMO NA MÍDIA E NA CULTURA BRASILEIRA
Falando sobre o Brasil, principalmente no que diz respeito a comunicação e entretenimento, o tokenismo é amplamente observado. Quando, por exemplo, uma única pessoa negra, indígena ou trans é incluída em um elenco, campanha publicitária ou programa apenas para que a emissora ou empresa possa se autodeclarar “diversa”.
Embora o país tenha uma população majoritariamente negra ou parda — cerca de 56% dos brasileiros, segundo o IBGE (2022) —, os elencos seguem predominantemente brancos.
Mesmo quando atores negros conquistam papéis de destaque, frequentemente acabam limitados a estereótipos, como um tipo de “alívio cômico”, o empregado doméstico ou o amigo secundário do protagonista branco.
Casos como o da atriz Taís Araújo reacenderam o debate sobre a diferença entre representatividade real e representatividade simbólica. Apesar de ser uma das principais atrizes do país, críticas apontam que sua presença no sucesso do remake Vale Tudo, principal novela da TV Globo, teve o protagonismo bastante ofuscado. Não se sabe até que ponto isso é uma questão estrutural, mas, assim como ocorreu com outros artistas negros da trama, sua participação nem sempre se consolidou de forma central, como era a proposta de sua personagem. Seu papel, por vezes, soava raso, forçado e distante de narrativas que reflitam a diversidade brasileira de maneira autêntica.
AS CONSEQUÊNCIAS DO TOKENISMO
O tokenismo produz uma falsa sensação de inclusão.
Empresas, emissoras e marcas se beneficiam de uma imagem “progressista” ou “antirracista”, enquanto mantêm as mesmas estruturas de exclusão.
Essa prática também impõe enorme pressão sobre a pessoa “tokenizada”, que passa a carregar a responsabilidade de representar todo um grupo social.
Além disso, o tokenismo reforça desigualdades estruturais, pois mascara a ausência de políticas efetivas de inclusão, como:
- Contratação e promoção de profissionais de grupos sub-representados;
- Formação antidiscriminatória em ambientes corporativos;
- Investimento em narrativas diversas e em lideranças plurais nos espaços de decisão.
CAMINHOS PARA COMBATER O TOKENISMO
Superar o tokenismo exige mudança estrutural, e não apenas simbólica. É necessário:
- Ampliar o acesso de grupos minorizados a cargos de poder e decisão;
- Garantir representatividade plural em todas as etapas da produção cultural e midiática;
- Desconstruir estereótipos e promover a diversidade de forma constante, crítica e autêntica.
No campo artístico, cresce o movimento de atores, roteiristas e diretores negros que recusam papéis baseados em estereótipos raciais. Esse posicionamento, ainda que inicial, representa um passo importante rumo a uma representatividade mais justa e transformadora no audiovisual brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASKANTER
Rosabeth Moss. Men and Women of the Corporation. New York: Basic Books, 1977.
KING Jr., Martin Luther. Why We Can’t Wait. New York: Harper & Row, 1963.
HOOKS, bell. Black Looks: Race and Representation. Boston: South End Press, 1992.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: Ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil: 2022.
Rio de Janeiro: IBGE, 2023.KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
