Se você acha que só os filmes modernos arrebentam nas bilheterias, está na hora de repensar seus conceitos. Em 1953, época em que a televisão ainda era uma novidade, O Manto Sagrado conseguiu levar mais de sessenta milhões de pessoas aos cinemas nos Estados Unidos. Um número que, se fosse hoje, faria muito blockbuster passar vergonha.
Não era só um sucesso de público — era um grito de reinvenção. Foi o primeiro longa a usar o CinemaScope, um formato que abriu a tela como quem escancara uma janela para o mundo. De repente, o que antes era um retângulo tímido virou um palco gigante, onde cada cena parecia respirar fundo antes de ganhar vida. Há quem diga que nenhuma outra produção até hoje usufruiu tão bem dessa tecnologia.
O Manto Sagrado fez mais do que lotar as salas de cinema: salvou a Century Fox do buraco. A produtora estava no sufoco, e foi essa obra que puxou o estúdio para fora da crise, rendendo mais de trinta e seis milhões de dólares (na época), algo em torno de quatrocentos milhões hoje. Um verdadeiro milagre financeiro.
Na direção estava Henry Koster, um judeu que fugiu da perseguição nazista e encontrou refúgio nos Estados Unidos. Não é à toa que o filme carrega aquele peso emocional, aquele olhar diferente sobre fé, dor e redenção. Koster filmava como quem pintava um quadro: cada cena era uma poesia, e a câmera deslizava suavemente, abraçando tanto os desertos infinitos quanto as lágrimas silenciosas dos personagens — fazendo da tela panorâmica uma extensão da alma dos protagonistas.
O orçamento era uma fortuna para a época: mais de cinco milhões de dólares. O produtor Frank Ross batalhou quase dez anos para tirar o projeto do papel. Mas, quando estreou, foi uma avalanche — filas virando a esquina, jornais, rádios e TVs só falavam nisso. A estreia em Nova York foi avassaladora, e a Fox sabia o que queria: inaugurar uma nova era no cinema. Dessa forma, O Manto Sagrado se tornou um raro momento em que a arte, a tecnologia e a espiritualidade se encontram em perfeita harmonia.
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