Sim, sei que é um título pesado para expressar uma impressão sobre uma produção de entretenimento. Gostaria sinceramente de descrevê-la de outro modo, com mais leveza ou esperança, mas, infelizmente, não dá. A estreia do Power Couple Brasil 2025, da Record, foi tecnicamente boa em termos de audiência: alcançou o segundo lugar no Ibope e deixou o SBT comendo poeira, mesmo ainda distante da poderosa TV Globo. E aqui está o ponto: após o desastre que foi o Big Brother Brasil 25 sob a direção do inexpressivo Rodrigo Dourado, cheguei a sentir saudades do reality da Record — só para que se tenha uma ideia do quão ruim foi essa edição (risos).
Com uma boa estreia, reforçada pela apresentação segura de Rafa Brites e Felipe Andreoli — que, aliás, foi um achado interessante da emissora dos bispos — parecia que, enfim, o programa vingaria. Os apresentadores, empolgados, anunciaram: “Vai lá no PlayPlus, tem cinco sinais à disposição para você, telespectador, não perder nada do Power Couple…”. Pois bem, fiz exatamente isso. Entrei na plataforma e, de repente, nada. Ou melhor: havia apenas um sinal disponível. Os demais sequer estavam ativados. Foi nesse momento que a expectativa ruiu, e me dei conta: continua sendo a mesma Record de sempre.
O Power Couple 2025 tinha tudo para ser o grande reality do ano — sobretudo num contexto em que as opções são cada vez mais escassas e os formatos cada vez mais reciclados. Mas a emissora parece não querer esse protagonismo. E é difícil entender por quê. Os sinais continuam precários, o som está frequentemente baixo, e, quando algo realmente interessante acontece, cortam as câmeras. É frustrante. E sim, isso é só o começo. Pode mudar? Talvez. Mas a experiência mostra que, na Record, as coisas raramente mudam de fato.
Um ponto positivo: o elenco. Os participantes parecem motivados, competitivos, com sede de jogo. Há uma presença forte, especialmente feminina, ainda que marcada por uma estética repetitiva — um verdadeiro mar de loiras, como a Record parece gostar. A diversidade é quase nula. A clássica “cota racial” aparece de maneira protocolar: dois participantes negros, apenas, o que remete ao padrão já conhecido de emissoras como SBT e Record, que parecem tratar a inclusão não como princípio.
Daí a imagem: Carelli e Carilli, juntos. Como fã de futebol e de reality shows, vejo muitas semelhanças entre os dois mundos. Rodrigo Carelli, diretor do Power Couple, me lembra muito o técnico Carilli, que recentemente passou pelo meu Vasco e foi demitido por conta de sua visão extremamente pragmática. Seu time só ganhava de 1 a 0 ou empatava — futebol burocrático, sem surpresas, sem improviso. É exatamente assim que Carelli dirige seus realities: não mexe em time que está “ganhando” ou simplesmente empatando. Não ousa. Não arrisca. Não surpreende.
O Power Couple ficou um tempo fora do ar porque Carelli estava investindo em A Grande Conquista, que, sejamos honestos, foi um desastre — um fracasso de crítica e audiência. Agora, com o retorno do Power, há uma falsa sensação de novidade, mas é apenas mais do mesmo: um formato arcaico, uma estrutura repetida, um looping de restos que apenas tapam os buracos da grade, que nem cresce, nem desaba.
A audiência segue sob o comando dos dinossauros da TV, resultando na falta de ousadia de um projeto que, um dia, quis estar à frente da Globo — mas que, ao que tudo indica, desistiu. Eu, particularmente, tenho muito apreço pela emissora — e é realmente uma pena ver tudo isso. A Record tem um potencial fortíssimo. Na minha opinião, seria a única capaz de romper esse monopólio — mas eles simplesmente não querem.
