Logo na estreia, escrevi um texto elogiando o desafio e a ousadia da Rede Globo ao tentar voltar às origens da novela brasileira. Afinal, tentar seguir a estética dos streamings gringos não estava dando certo, né? Ou seja, o remake de Vale Tudo é uma resposta da emissora aos telespectadores: ‘Nós ainda sabemos fazer uma novela brasileira de qualidade.’ Ou, pelo menos, deveria ser.
É muito triste dizer isso, porque, como um apaixonado pela TV brasileira, torço para que dê certo. Mas não está fácil. Está faltando muito — principalmente no que diz respeito à edição e à atuação do elenco.
Sei que muitos dizem: “Ah, mas não pode comparar!” Ora, como não? É como aquela pessoa que te recebe em casa dizendo: “Não repare a bagunça” — impossível não reparar. Os cortes de edição estão secos, sem timing, e os enquadramentos parecem saídos da década de 60. As cenas são rasas, sem profundidade. Uma coisa é remeter à nostalgia, outra bem diferente é não ter criatividade. E também falta aquele bom e velho dramalhão de qualidade que todo mundo conhece e espera de uma novela.
Taís Araújo, por exemplo, está entregando um moralismo caricato demais para os dias atuais. Às vezes, sua atuação soa forçada — embora ela seja, sem dúvida, uma ótima atriz. Talvez caiba ao diretor orientá-la nesse ponto. Vale lembrar que Raquel era, acima de tudo, uma personagem engraçada, vibrante, e não extremamente triste. Regina Duarte, na época, emplacou a frase “Sangue de Jesus tem poder” de forma leve e divertida — e a gente ouvia isso nas ruas, em referência ao sucesso da personagem. É claro que, hoje, essa frase seria vista como inadequada, principalmente pelas questões que envolvem intolerância religiosa, mas não dá pra ignorar a criatividade da atriz naquele momento.
Paolla Oliveira, também uma boa atriz, passa o tempo todo sacudindo os cabelos, numa tentativa clara de lembrar Renata Sorrah. E Bela Campos… ah, a Bela. Transformou Maria de Fátima — que era uma personagem mimada, sim, mas também inteligente e sofisticada — em uma garota fútil e sem sentido. Sem contar a polêmica desagradável envolvendo ela e Cauã Reymond. Bela, junto com outras atrizes, acusou Cauã de atitudes machistas e outras “cositas más”. Fofocas que, de certa forma, acabam servindo como um tipo de marketing — ainda que negativo. O problema é que esses bafafás passam rápido, o público enjoa. E quando o burburinho acabar, como vai ser?
Enfim, a novela não tem profundidade. Os episódios são rasos e não marcam. Não dá vontade de continuar assistindo. Sabe aquela cena que fica gravada na cabeça? Pois é, até agora, não aconteceu.
A sorte é que, para quem gosta de novelas, não há nada melhor passando no mesmo horário na TV. Porque, se houvesse, isso seria um problema para a nossa “Plim Plim”. A audiência, inclusive, já não está como o esperado. E não se pode dizer que remakes não funcionam — basta lembrar do sucesso de Pantanal.
Ainda estamos no início. Dá tempo de mudar? Claro que sim. Essa não é a primeira e nem será a última novela a começar mal. Então, por favor, direção e elenco: vamos salvar Vale Tudo e fazer esse novelão acontecer. Acreditamos em vocês!
