O renomado jornalista David Brooks, no The New York Times, publicou um artigo que nos traz a seguinte pergunta: e se a geração Z for a geração mais rejeitada de todas? Pois é, o artigo não se trata apenas de uma percepção de Brooks, mas de um estudo profundo sobre a carência social e estrutural moderna. De acordo com o Pew Research Center, a geração Z (Gen Z) é composta por pessoas nascidas entre 1997 e 2012. Ou seja, atualmente os membros dessa geração têm entre 13 e 28 anos.
Brooks argumenta que, embora os nossos pais e avós tivessem instituições, clubes e associações à sua volta, hoje as pessoas jovens vivem em meio a instituições frágeis que estão sempre passando por mudanças, quase dissolúveis, gerando uma falta crónica de ligações, de mentores e de pessoas que se preocupem de fato, o que resulta na falta de pertencimento.
Brooks chama essa condição de “escassez relacional”. Não é falta de dinheiro, mas de gente por perto. Pais trabalhando até tarde, vizinhos que mal se conhecem, adultos que não param para orientar os mais novos. A “Geração Z” cresceu entre crises econômicas, conflitos políticos e, para agravar, teve que enfrentar uma pandemia. Eles tiveram que se virar sozinhos. Se antes, de alguma forma, a sociedade absorvia melhor os impactos, hoje, todo amparo parece ter desaparecido, e cada um precisa reinventar seu próprio caminho. Essa solidão, segundo Brooks, é um dos maiores desafios do nosso tempo.
Muita gente culpa a tecnologia e as redes sociais, mas Brooks não considera que elas sejam o verdadeiro vilão. Para ele, elas apenas amplificam um problema pré-existente. Ao contrário do que dizem, as redes, por pior que seja seu uso, funcionam para expor esse palco alarmante, o que seria pior se não existissem. Não é drama, não é fraqueza, é uma resposta natural a um ambiente contemporâneo. Essa fragilidade virtual tão criticada evidencia justamente o que falta: comunidades que ajudem os jovens a seguir em frente. Sem isso, qualquer tropeço assume proporções muito maiores.
Brooks não retrata a “Geração Z” como “coitadinha”. Pelo contrário: eles procuram ajuda, falam sobre saúde mental sem tabu e não aceitam passivamente os discursos tradicionalistas. Precisaram amadurecer cedo, buscar sentido e criar novas formas de conexão. Apesar de serem frutos de um sistema que falhou, são os primeiros a tentar reconstruir algo no lugar do que se perdeu.
No fundo, a crítica de Brooks se dirige à sociedade como um todo, que deixou de oferecer aos jovens o chamado “capital social”, ou seja, as conexões que fazem a vida valer a pena. A solução não é culpá-los por serem frágeis, mas reconstruir os espaços de convivência, fortalecer famílias, revitalizar a vida comunitária, promover encontros reais em empresas, universidades, onde for possível. É um chamado às gerações mais antigas.
Brooks não entrega apenas um alerta, mas um convite, mostrando que o problema da “Geração Z” não é apenas falta de oportunidades, mas o vazio deixado nas relações. Se existe esperança, ela está justamente em reconhecer esse vazio e, juntos, trabalhar para preenchê-lo com verdade, acolhimento e afeto, recuperando uma geração que tanto se procura, mas raramente se encontra.
Referências:
BROOKS, David. The Age of Social Rejection. The New York Times, 2024. Disponível em: https://www.nytimes.com/2025/05/15/opinion/rejection-college-youth.html.
BROOKS, David. How America Got Mean. The Atlantic, 14 ago. 2023. Disponível em: https://www.theatlantic.com/magazine/archive/2023/09/us-culture-moral-education-formation/674765/
PEW RESEARCH CENTER. Defining Generations: Where Millennials End and Generation Z Begins. 17 jan. 2019. Disponível em: https://www.pewresearch.org/short-reads/2019/01/17/where-millennials-end-and-generation-z-begins/
PUTNAM, Robert D. Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community. New York: Simon & Schuster, 2000. Disponível em: https://bowlingalone.com/ bowlingalone.com
TURKLE, Sherry. Reclaiming Conversation: The Power of Talk in a Digital Age. New York: Penguin Press, 2015. Disponível em: https://www.sherryturkle.com/reclaiming-conversation sherryturkle.com
