Donald Trump é um conservador cristão? Bom, todos sabemos que há controvérsias. Ele fez fortuna com cassinos, casou-se três vezes e até se envolveu com profissionais do sexo. Ah, quase me esqueci: dizem por aí que ele nunca pediu perdão a Deus. Dá para acreditar? Ainda assim, para muitos evangélicos, ele representa os valores cristãos e é visto como o único capaz de defendê-los no mundo inteiro. E aí, como explicar tamanha contradição?
Pois é, teoricamente, Trump conseguiu se consolidar como um ‘patriota’ ao se opor ao secularismo e às agendas progressistas. Ele prometeu defender a liberdade religiosa, nomear juízes conservadores e apoiar políticos comprometidos em restaurar valores que, segundo ele, estavam sendo atacados pela esquerda. Entre suas pautas, destacou-se a oposição aos movimentos LGBTQIA+, o reconhecimento de apenas dois gêneros (masculino e feminino) e a deportação enérgica de imigrantes ilegais.
No entanto, a questão permanece: como um cristão pode apoiar alguém cujas ações frequentemente contrariam princípios sociais? Para algumas comunidades evangélicas, essa aparente contradição se explica pela crença de que Deus pode usar líderes pecadores para cumprir Seus propósitos divinos. Um exemplo frequentemente citado é o de Ciro, o rei persa, que, mesmo não sendo israelita, foi instrumento de Deus para permitir que os judeus retornassem à sua terra e reconstruíssem o Templo.
“Ele é meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; dizendo também a Jerusalém: Será edificada; e ao templo: Será fundado.” — BÍBLIA. A Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada. 2. ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Isaías 44:28; 45:1-4.
Outra narrativa um tanto duvidosa é a de que Trump traria a paz entre Israel e a Palestina, sendo visto por alguns como uma espécie de Messias ou até mesmo Anticristo, já que, para esses grupos, o que importa é que as profecias se cumpram, independentemente de como ou com quem sejam realizadas.
A Bíblia não afirma explicitamente que o Anticristo trará paz entre Israel e a Palestina. No entanto, essa ideia se baseia em interpretações escatológicas, especialmente nos livros de Daniel e Apocalipse. Essas passagens falam sobre um líder mundial que fará um acordo de paz. Embora o texto bíblico não mencione diretamente “Israel e Palestina”, há a interpretação de que ele promoverá um tratado de paz entre as nações. Essa visão é comum em algumas correntes do pensamento dispensacionalista (futurista).
Daniel 9:27 – ‘Ele fará firme aliança com muitos por uma semana; e, na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares. Sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.’ Este versículo fala de um ‘príncipe’ que fará uma aliança com ‘muitos’, o que é interpretado por alguns estudiosos como um acordo de paz. — BÍBLIA. A Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada. 2. ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Daniel 9:27.
O relacionamento estratégico-político seria outro fator para aguçar ainda mais a aceitação de Trump entre os evangélicos. Alguns acreditam que as políticas do empresário em relação aos Estados Unidos fortalecem de alguma forma os valores conservadores, o que aumenta automaticamente sua popularidade e lhe rende ótimo apoio eleitoral. Nesse aspecto, não é a moralidade individual que interessa aos evangélicos, mas as vantagens políticas que são adquiridas.
Vale ressaltar que Trump tem Elon Musk como um de seus braços direitos, uma espécie de Secretário de Eficiência. O CEO da Tesla participa de conselhos consultivos na administração de Donald Trump. Anteriormente, em uma polêmica envolvendo Musk e Janja, a primeira-dama do Brasil, Musk teria afirmado que a ‘esquerda brasileira’ não venceria as próximas eleições. Será?
Por fim, uma teoria não menos significativa é a polarização política em torno dos Estados Unidos, que é fundamental nesta questão. Segundo os evangélicos, os democratas são uma ameaça à direita, e Trump, apesar de todas as suas deficiências morais, pode se dar melhor nessa briga. Assim sendo, a personalidade (ou o que ele fez ou faz) pouco importa; o que importa, na verdade, para os evangélicos, é sua influência política, que corrobora, mesmo que de maneira esdrúxula e incoerente, com as ideias conservadoras.
